sábado, 27 de janeiro de 2018

O Tempo não da tempo


“O tempo não dá tempo”, um espetáculo itinerante de teatro-dança, construído a partir das sensações de interrupção, insistência, lentidão e falta de tempo, faz um paralelo entre os tempos urbanos e o tempo da poesia. De um lado, cenas curtas, interrompidas e confinadas, experimentando o tempo das relações que não se estabelecem e a fragilidade da vida, do nosso dia a dia. Tempo que nos atravessa, interrompe, separa. De outro, o tempo da delicadeza, do respeito e do cuidado. Nossas memórias, da infância, da saudade. A observação sobre o nosso próprio corpo e, com isso, a reflexão sobre o que fazemos com nosso tempo e, principalmente, sobre a percepção de vivenciar de verdade cada minuto da sua vida. Uma homenagem ao presente seja ele com ou sem leveza, mas que seja inteiro. “O tempo não dá tempo” é essencialmente um espetáculo que mergulha em uma experiência sensorial, dando possibilidade que o público seja também um criador, visitando sua própria memória, resgatando algo bom que viveu, de ser criança mesmo sendo adulto.

Segundo a diretora Duda Maia, colocar cinco gerações de atores/intérpretes em cena é um caminho extremamente potente de percepção de tempo. De como o tempo de história de cada um é significativo na realização de um pequeno gesto e, consequentemente, a leitura de cada espectador irá navegar por caminhos pessoais. “Espero que o espectador se torne um protagonista com essa experiência artística e mergulhe, como quiser, no seu TEMPO”, comenta Duda, que acrescenta... "Conheço Angel desde que tinha 18 anos, sua dança mudou a minha vida, me deu direção e desejo. Tanto tempo e parece que foi ontem. Em 2018 eu completo 50 anos e Angel 90. Não teria um jeito mais belo de comemoramos nossos aniversários", comemora a diretora.



O que dizer do tempo. O que dizer do espetáculo. Posso dizer em poucas palavras que o espetáculo é maravilhoso! Como Duda Maia falou ao unir intérpretes como Angel Vianna, Ciro Sales, Juliana Linhares Mariana Viana e Oscar Saraiva, percebemos a beleza de um corpo que não envelhece. Este corpo é invisível aos nossos olhos quando vemos nossos atores bailarinos brincando no espaço vazio do OI Flamengo. 

Os textos de Gregório Duvivier, Oscar Saraiva, Duda Maia, Gonçalves M. e elenco fazem a gente pensar o Tempo segundo Santo Agostinho. 



O Que é o tempo?
A reflexão filosófica de Agostinho sobre o tempo é uma de suas mais brilhantes análises filosóficas, a qual o torna, embora sendo um pensador medieval, muito mais contemporâneo do que muitos outros da atualidade. O modo como Agostinho expõe suas interrogações com relação ao tempo marca a reflexão ocidental até os dias de hoje.
Questiona Agostinho: “Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.”
Agostinho defronta-se com algumas dificuldades principais ao falar sobre o tempo: não podemos apreendê-lo, pois o tempo nos escapa, não conseguimos medi-lo. E também não podemos percebê-lo.
A nossa percepção do tempo permite dividi-lo em três partes: passado, presente e futuro. A partir de nossa experiência, sabemos que esses três tempos são bastante distintos entre si. O passado é o tempo que se afasta de nós, de nossa consciência, de nossa percepção; é tudo que já não é mais palpável, simplesmente porque já se foi. Chamamos de presente o “agora”, o tempo em que nossas experiências acontecem, no momento em que ocorrem. E o futuro, por sua vez, corresponde ao conjunto de todos os eventos que se concretizam na medida em que o tempo passa. Em outras palavras, o futuro é como o lugar onde estão prontos todos os fatos que presenciamos quando determinado período de tempo vier a transcorrer, por menos ou por mais extenso que seja.
De acordo com nossa percepção, dividimos o tempo em três partes distintas: o presente, o passado e o futuro. Seria necessário, neste momento, lançar mão à seguinte questão levantada por Agostinho: É possível medir o tempo? “E, contudo, Senhor, percebemos os intervalos dos tempos, comparamo-los entre si e dizemos uns são mais longos e outros mais breves. Medimos também quando esse tempo é mais comprido ou mais curto do que o outro, e respondemos também que um é duplo ou triplo, ou que a relação entre eles é simples, ou que este é tão grande como aqueles. as não medimos os tempos que passam, quando os medimos pela sensibilidade. Quem pode medir os tempos passados que já não existem ou os futuros que ainda não chegaram? Só se alguém se atrever a dizer que pode medir o que não existe! Quando está decorrendo o tempo, pode percebê-lo e medi-lo. Quando, porém, já tiver decorrido, não o pode perceber nem medir, porque esse tempo já não existe”
Desta forma, não conseguimos medir o tempo. O presente porque não tem nenhum espaço; o futuro porque ainda não veio e o passado porque já não existe mais. Podemos perceber e medi-lo apenas no momento em que está decorrendo.

Trecho do texto: Santo Agostinho e Sua Reflexão Sobre o Tempo de Ranis Fonseca de Oliveira é Mestre em Filosofia pela PUC/SP




“O Tempo não dá Tempo”
Temporada: 18 de janeiro a 25 de fevereiro de 2018
(não haverá espetáculo na semana do Carnaval, de 08 a 11 de fevereiro de 2018 )
Local: Oi Futuro (Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo)
Informações: (21) 3131-3060
Dias e horários: quinta a domingo, às 20h
Capacidade: 44 lugares
Duração: 75 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Ingressos: R$30,00



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