sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Entrevista com a candidata a Deputada Estadual Elika Takimoto do PT


Elika Takimoto é a quarta candidata a deputada estadual a ser entrevistada pela Bauhaus Cultural. ela é filiada ao PT (Partido dos Trabalhadores). Graduada em Física pela UFRJ, Professora e Coordenadora de Física do CEFET/RJ. Integrante do grupo de pesquisa Estudos Sociais e Conceituais de Ciência, Sociedade e Tecnologia.
Autora de mais de dez livros, dentre eles: História da física na sala de aula, Minha vida é um blog aberto, Como enlouquecer seu professor de física, Filhosofia, Beleza suburbana, Tenso, logo escrito e Isaac no mundo das partículas.

1)      Elika, como você vê o desmonte da cultura em nosso Estado?

O desmonte da cultura do nosso Estado, assim como da educação, é um projeto e não fruto do acaso. A arte é a forma mais sublime de comunicação. Um povo que aprende a se expressar de diversas formas aprende também a enxergar o mundo sob outros ângulos. E isso não é interessante para quem hoje está no governo. Também faz parte do projeto fascista ridicularizar a arte porque somente através dela conseguimos atingir outros níveis de sensibilidade. Enfim, tudo isso é muito bem orquestrado. E reverter esse desmonte está em nossas mãos, na ponta de nossos dedos para ser mais exata: elegendo pessoas que valorizem nossa cultura.

2)      Quais são seus projetos para resgatar a Gestão Cultural?

Historicamente, o Rio de Janeiro é famoso pelo atrativo circuito cultural que possui. Dotado de centros culturais, museus, teatros, espaços para shows, pólos gastronômicos, bares e até um gigante espaço cenográfico, de onde emana grande parte do conteúdo produzido para a TV e distribuído para todo o país. Um desavisado morador de outro estado poderia pensar que o Rio de Janeiro é basicamente “o que passa na novela”. Mas a cultura produzida em nosso estado é muito mais rica e profunda, vai muito além da tela, e nem sempre é devidamente conhecida e disseminada.

Para que possamos dar este devido reconhecimento, que o diversificado arranjo cultural fluminense merece, é preciso que ele seja observado com um olhar mais apurado e plural. Diversos municípios da região metropolitana e do interior do estado têm dificuldade em acessar a produção cultural feita nas áreas centrais da cidade do Rio de Janeiro. E pior do que isso: eles não conseguem ter sua própria produção cultural devidamente valorizada.

Investir no potencial cultural é caminho para a construção cidadã da população de nosso estado e dever do poder público. Portanto:

- Descentralização dos eventos e aparelhos de cultura, com a valorização dos já existentes;
- Lutar pelo cumprimento da lei que garante que 1% do orçamento se destine para a Cultura;
- Promoção dos espaços de cultura em áreas periféricas;
- Apoio às iniciativas de valorização da cultura popular;
- Acompanhamento e divulgação de projetos que envolvam o enraizamento da memória e identidade dos territórios;
- Entrelaçamento e valorização da vivência artístico-cultural com a educação, ampliando o atual público infanto-juvenil e o futuro, e também atuando na idade adulta;
- Incentivo às trocas de experiências multiculturais entre as diversas regiões do estado e da região metropolitana;
- Afirmar que as escolas são enraizadas e presentes nos bairros, cumprindo neles um papel central, e logo, há várias potencialidades para que sejam pólos de cultura e conhecimento, espaços da cidadania – Escola Viva;
- Entrosamento dos potenciais artísticos com os espaços públicos, permitindo que as produções cheguem ao maior número de pessoas possível;
- Reconhecer que o futebol também é raiz: precisamos acompanhar as demandas feitas pelo público que frequenta nossos estádios de futebol; a garantia de um acesso mais popular e a desburocratização do processo para a entrada de faixas, bandeiras e instrumentos nos estádios, entre outras, são discussões nas quais também podemos contribuir.

3)      Vejo que existem grupos de teatro que apoiam sua candidatura. Como você vê este apoio para a sua campanha?

Não somente grupos de teatro, mas grupos de samba, de rap, de rock… percebo isso como um reconhecimento de que sempre ajudei a divulgar arte e cultura em minhas redes e até mesmo antes de sonhar em ser candidata. No mais, muitos sabem que no meu conceito de educação a arte é parte imprescindível. Não se melhora a mente só com gramática, fórmulas e teorias. Precisamos também da poesia, da música e do teatro.


4)      Tenho feito esta pergunta para muitos candidatos, farei para você. Você gosta do Cinema Brasileiro?

Cinema brasileiro é o que há. O Brasil tem muito petróleo e  beleza natural. Mas de sobra mesmo temos talento para fazer audiovisual. Fico impressionada com a quantidade de filmes de muita qualidade surgindo e muitos deles, vale observar, não entram no grande circuito, infelizmente.

As salas de cinema que ficam dentro dos shoppings - que são chamadas de multiplex - estão  comprometidas com distribuidoras estrangeiras dificultando a difusão dos filmes brasileiros.

Como a indústria estrangeira é muito forte, as vezes o orçamento de divulgação de um filme estrangeiro  se equipara ao orçamento do produção de um filme nacional. Ou seja, concorrer com isso não favorece que o cinema brasileiro chegue ao grande público e sua qualidade seja reconhecida.

A maioria das salas de cinema independentes não conseguiu sobreviver ao mercado. Muitas acabaram virando Igreja. Nada contra igrejas, mas os espaços culturais também devem ser considerados sagrados.


5)      O Candidato Jair Bolsonaro, falou abertamente que vai acabar com muitos ministérios incluindo o Ministério da Cultura no caso de ser eleito. Como você vê isso?

Vejo como um processo fascista em andamento que não está difícil de ser revertido. Há muitas pessoas acordando para a realidade e as eleições estão aí para mostrar isso. O movimento #elenão que já extrapolou nossas fronteiras prova que o grito foi alto mas há de ser efêmero com a duração de um instante. O que perdura é a arte porque faz parte da essência do que somos. Contra essa verdade não tem como lutar. A favor dela, temos as urnas.


6)      Gostaria de dar uma mensagem aqui na Bauhaus Cultural?

Gostaria de agradecer a iniciativa de promover a arte e pela oportunidade de falar. Deixar que a palavra discorra é uma das coisas mais nobres em qualquer setor de nossa sociedade. Grata por ter me convidado para essa festa que é a comunicação. Parabéns pelo espaço!





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