quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A nudez na Performance

Uma das coisas que tem mais chamado muita atenção de leigos seria a questão da nudez na performance. Sempre sou questionado sobre o que eu acho da nudez e porque que o artista da performance deve ficar pelado para fazer tal trabalho. Andei pesquisando e muito e tentei explicar de forma simples tal assunto.

Nas revista cartoze me chamou a atenção nesta notícia que mostrou as 10 mentiras sobre a performance. logo na primeira mentira foi dado o seguinte:

# Mentira Um – “A performance é aquela coisa com um monte de gente pelada”.

Ao contrário do que muitos pensam a performance arte não depende da nudez, e esta não é pré-requisito para sua identificação. Devido ao fato de sempre ter envolvido em suas reflexões questões sobre o corpo e suas práticas sociais, a performance utilizou e utiliza a nudez como recurso para discuti-lo em seu estado mais orgânico, contudo nem sempre esta estratégia se faz necessária, sobretudo quando não concerne a proposta do trabalho do performer.
Assim embora a nudez seja utilizada como recurso para pensar o corpo, não é uma “roupa” da performance, e nas ocasiões em que é utilizada deve ser pensada como componente de significados da proposta artística.


http://revistacatorze.com.br/2011/dez-mentiras-sobre-a-performance-arte-%E2%80%93-parte-1

acessado em 29 de setembro

Uma das artistas que tem feitos belos trabalhos de performance é Thaíse Nardim (foto acima tirada em dezembro de 2010). Ela faz performance de nudez com a  participação do público. Cito uma das muitas  propostas dessa moça oriunda de Tocantins cuja a performance é considerada por mim além de ousada uma das mais belas formas de trabalho.


COMO BRINCAR:

Quando a música começar a tocar, está dada a largada. Para satisfazer seus desejos, será permitido que você (vocês) dê (dêem) uma lambidinha no chantilly que está sobre o meu corpo. Mas isso não acontece sem conseqüências: para cada lambidinha que levar, eu comerei um desses corações crus de galinha que estão aqui à minha frente, e progressivamente: para a primeira lambida, um coração comido. Para a segunda, dois. Para a terceira, três - e assim sucessivamente. Peço a gentileza de que apenas uma pessoa por vez venha até mim, de modo que eu possa comer os corações referentes a essa lambida antes de levar a próxima. O jogo acaba quando acabar a música, que está num looping de 20 minutos.

Além dessa, existe muitas outras performances no blog dela:

http://cabenamao.blogspot.com/

Mas continuemos nossa reflexão. Outra performer que me chamou a atenção foi Regina José Galino. Uma performer da Guatemala. Ela usa sua nudez em formato de protesto. No blog Palavra do Fingidor existe um post bem legal falando sobre este trabalho. 

"Galindo nua na cama, grávida, pernas abertas, amarrada, protestando contra os estupros. Galindo sofre intervenção cirúrgica para “tornar-se” virgem novamente, zombando, assim, do preceito machista da virgindade como imagem imaculada de um determinado caráter. Galindo nua, numa encosta, encolhida, ao seu redor, sua urina. Imagem forte, linda, inquietante. Galindo deitada numa cama, esperando seu “príncipe azul”, com apenas uma abertura no lençol, exatamente onde é sua vagina, que é a única coisa que aparece. O Príncipe azul só a quer possuir, e depois, dar o fora. Já vimos isso muitas vezes. A nudez desta performer é de uma singeleza e capacidade de comunicar, de ter seu corpo a nosso alcance e além, que ficamos irmanados com a nudez da artista, com a verdade que ela consegue nos transmitir. Força de uma mulher, talvez a mais autêntica artista desta arte da performance, muito em voga neste começo de século XXI, especialmente com a insurgência do Teatro pós-dramático.

Um outro aspecto da obra de Regina Galindo que muito chama a atenção deste crítico de arte é a simplicidade de suas ações, a limpeza de suas ideias e a colocação de sua nudez realmente de forma natural. Ela escapa do exibicionismo de maneira tão elegante, tão singular, que temos a impressão que sua obra é determinante para termos um foco mais delicado às questões que envolvem a nudez em nossas vidas. Este um valor preponderante para todos nós, naturistas ou artistas que prezam por uma coletividade realmente que nos comova, que leve aos outros nossas mensagem da nudez como base natural de toda convivência, uma nudez perseguida por muitos, mas nudez sem roupagens desnecessárias."
http://palavradofingidor.blogspot.com/2011/01/o-poder-da-nudez-na-arte-da-performance.html
Surge aí então um outro exemplo ao criticar o mundo machista através da própria nudez.

Posso dizer que a nudez é vista mais do que uma forma de arte. ela é vista como um objeto de estudo. Algo com aquele objeto de estudo de Gilles e Guattari em relação ao Corpo sem Orgãos (CsO). Um devir continuo. 

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