Carolina Ferraz e Sandra Coverloni estão nesse drama dirigido por Flávio Ramos Tambellini. Neste longa um dos temas abordados é a transexualidade, a morte e por fim a amizade. Ambas as atrizes trabalham bem. O que deve se notar é que para esse papel Carolina Ferraz teve que botar uma prótese na boca além de engordar e e engrossara voz. Sem dúvida é um trabalho muito interessante que Carolina fez. Praticamente, ela teve que ser um "homem".
Tenho que admitir que as duas atrizes são bastante corajosas em fazer esse filme. Ele chama bastante a atenção em certos temas que ainda são um tabu. Porém, dentro do próprio roteiro assim como o filme são bastante fracos.
Este é um pequeno texto do Adoro Cinema que vale a pena refletir. Ele foi escrito por Bruno Carmelo. Em muita coisa, devo concordar com ele. Olha o que ele escreve:
Segundo Carmello (2017) : "A construção superficial de personagens prejudica a verossimilhança na trama. O único motivo para Graça procurar a irmã com quem perdeu contato há 15 anos é o fato de não ter mais ninguém para cuidar de suas crianças, mas logo se descobre a existência de uma amiga próxima, descrita como “quase uma irmã”, que mora ao lado e conhece as crianças muito bem. O bullying caricatural sofrido por Papoula na escola parece extraído de comédias como Meninas Malvadas, e a ínfima importância dada a uma atriz coadjuvante transexual deixa a impressão amarga de que a personagem integra o elenco apenas por cota de representatividade, apesar do bom trabalho da atriz.
A direção de fotografia chama a atenção. Talvez a equipe tenha decidido que Graça pratica a cromoterapia, mas o lar onde se passa grande parte da trama remete a um buffet infantil: a cozinha tem luzes verdes profundas, um quarto é totalmente amarelo, o outro é azulado, o corredor tem luzes vermelhas... Mesmo nas cenas externas, alguns efeitos aquáticos e as cores extremamente saturadas dão a impressão de estarmos num universo fantástico, edulcorado, muito distante das dificuldades palpáveis de se enfrentar uma doença ou o preconceito social.
Tambellini filma suas cenas multicoloridas com os enquadramentos mais fechados possíveis, tendo como limite os rostos das duas atrizes. A estética claustrofóbica impede que os espaços importantes da casa, da escola e do próprio Rio de Janeiro exerçam uma influência na tristeza e na solidão das duas mulheres. Quando Glória e Papoula encontram um novo amor – solução fácil para sugerir um final feliz – a câmera se limita aos planos de conjunto, com ambos lado a lado, nos terços exatos do quadro. A rigidez das imagens transparece a falta de criatividade da mise en scène.
A representatividade, sim, merece ser questionada no projeto. A cada novo filme sobre transexuais ou travestis interpretadas por atores e atrizes cis, perde-se uma nova oportunidade de dar protagonismo a estas figuras marginalizadas. Se a intenção é defender a inclusão social, por que não começar com o próprio elenco? Por mais que Carolina Ferraz efetue um trabalho competente – e que Jeffrey Tambor, em Transparent, ou Jared Leto em Clube de Compras Dallas tenham se saído muito bem como mulheres – ressente-se a falta de os projetos botarem em prática o discurso que defendem. A prótese na boca de Carolina Ferraz, para parecer mais masculina, incomoda pela necessidade de relembrar que ela nasceu com corpo diferente. Por que é tão importante insistir na diferença entre “aparência de mulher” e “aparência de homem”?
Outro aspecto do respeito à identidade de gênero incomoda em A Glória e a Graça. A travesti ouve da irmã alguns dos piores preconceitos – sugerindo que ela tenta “empurrar goela abaixo” sua identidade, ou que vai educar um garoto como se fosse mulher – mas a personagem nunca responde às acusações, e o roteiro simplesmente as ignora. Glória precisa repetir o tempo inteiro que é honesta e trabalhadora, como se fosse uma espécie de compensação por ser travesti. O discurso “travesti, porém trabalhadora” é análogo ao preconceituoso “pobre, porém honesto”. A crítica à prostituição também mereceria maior aprofundamento: o roteiro sugere que as moças venderiam seus corpos não pela falta de oportunidades, mas por uma espécie de carência afetiva ou instabilidade emocional."
Decidi por uma parte da crítica de Bruno porque ele chama muito a atenção nos pontos do filme que poderiam ser trabalhados com mais profundidade. Se você quiser ver a crítica aí vai o link:
Bem, mas se você gosta de chorar e gosta de um drama, A Glória e a Graça é para você.
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