Gostaria de deixar uma pergunta aqui: Será que estamos ainda na Ditadura Militar. Talvez esta só mudou de nome para Ditadura da Intolerância ou Ditadura da Impunidade.
Segue o relato:
"Amigos,
companheiros, queridos! Faço aqui um breve relato do que passei nos
últimos dias: Fui a manifestação contra a comemoração do Clube Militar
como publiquei aqui no meu mural. Ao chegar lá encontrei Maria Cristina
Martins e ficamos gritando palavras de ordem e constrangendo cada milico
de pijama que chegava para aquele circo
de horrores. Com alguns momentos de tensão, a manifestação estava
pacífica. Depois que a tropa de choque do bope chegou a coisa ficou
bastante tensa. Eles chegaram empurrando e armados até os dentes. Muitos
deles estavam sem identificação. Os milicos começaram a sair da festa e
o clima fechou de vez. Um rapaz que não conheço, mas depois soube de
sua história - estava lá por ter perdido seus pais durantes a ditadiura
civil-militar - começou a questionar um desses milicos reformados sobre o
paradeiro dos seus entes queridos e o xingar de assassino e torturador.
O militar deu um tapa na cara do rapaz que o agrediu de volta. Esse
rapaz foi detido pela PM e na hora em que ele foi levado nós começamos a
pressionar com palavras de ordem para que fosse solto. Resolvemos
fechar a av. Rio Branco. Ficamos por uns minutos ali, cantando palavras
de ordem como: “prendam os torturadores, soltem os lutadores” foi quando
a tropa de choque começou a agir. Primeiro eles gritavam para que
liberássemos a avenida. Depois tacaram spray de pimenta nos nossos
rostos. Eu me protegi com as mãos, mas mesmo assim fiquei meio sem
conseguir enxergar e com uma forte ardência nos olhos, nariz e boca.
Quando consegui tirar as mãos do rosto vi a bomba de gás lacrimogênio
vir em minha direção e foi uma fração de segundos, eu senti o impacto da
bomba no meu peito e cai no chão, vi um pedaço da bomba e tentei
pegar... perdi a consciência. Quando acordei estava no colo de um rapaz e
Paulo Vitor estava ao meu lado. Pedi que ele avisasse alguém da minha
família para que Arthur pudesse ser buscado na Escola. Esse rapaz que me
tirou do meio da confusão pode ter salvo minha vida, nunca o vi, mas
serei eternamente grata! Depois disso, fiquei muito atordoada, demorei
para entender o que estava acontecendo porque havia se instaurado o
terror da polícia sobre nós. Dei algumas entrevistas e tiraram muitas
fotos de meus machucados. Vi um rapaz tomar choque daquela arma teaser e
cair no chão, uma menina desmaiar por causa da fumaça e muito
desespero, pessoas correndo, chorando.
Mas, eu precisava sair dalí, fazer alguma coisa com meus machucados, ir na polícia... Maria Cristina e meu pai Alvaro Frota, me ajudaram e a procurar alguém que conhecesse um advogado para me auxiliar na denúncia. Encontrei Roberta Martins e Carlos Latuff e eles me encaminharam para a delegacia onde o rapaz estava preso. Lá encontrei um grupo de manifestantes que aguardavam a soltura do rapaz e o advogado da comissão de direitos humanos da Alerj, Tomás. Depois de esperar por horas para ser atendida, o delegado se negou a me receber exigindo que eu fosse para um hospital, me cuidasse e voltasse no dia seguinte. Fui ao hospital e descobri que nada de sério havia acontecido e que os ferimentos da bomba além de doer muito iriam me acompanhar ainda por alguns meses.
No dia seguinte, voltei a delegacia, dessa vez acompanhada de Marcelo Santini e Tomás. Prestei meu depoimento e fui encaminhada ao IML. Fiz exame de corpo delito. Dentro da possibilidade entrarei com uma representação contra o comando da operação do ato e contra o Estado do Rio de Janeiro.
Estou ainda com muita dor e tenho evitado ficar on porque sentar está muito difícil para mim. Mesmo assim, quero fazer esse relato porque muitos de vocês ficaram preocupados, desejaram melhoras e eu quero mostrar o quanto estou agradecida! Mas, gostaria de agradecer principalmente à Maria Cristina, Frederico Guerra, Paulo Vitor, Alvaro Frota, Roberta Martins e André Fernandes por terem estado ao meu lado e me ajudado: queridos, muito obrigada e “tamujunto”. Agradecer sempre a minha mãe, Cleier que cuidou do meu filho Arthur enquanto eu estava lá.
De acordo com a lei, é permitido o uso desse tipo de arma que dispara bombas desde que seja disparada mirando o chão. O policial que me feriu mirou em mim e isso é ilegal. Essa é a matéria de que se trata a lesão corporal, essa é a tipificação do crime cometido.
Estávamos lutando contra a ditadura que existiu e que insiste em se mostrar presente em nossas vidas. Não fizemos nada de errado ao exigir punição aos sequestradores, torturadores e assassinos que cinicamente comemoravam seu governo de horror. O que aconteceu comigo e com outras pessoas, demonstra o quão poderosos esses senhores ainda são e como nossa luta ainda está muito longe de terminar.
Embora tenha nascido no ano da anistia e não tenha perdido nenhum ente querido na ditadura, no dia 29 de março eu senti em meu corpo a gravidade e a materialidade de tudo aquilo que havia estudado nos livros e ouvido nos relatos. A impunidade daqueles que mataram, torturaram, sequestraram só favorece àqueles que querem continuar sequestrando, torturando, matando.
Não podemos esquecer por nenhum instante, não podemos perdoar, não devemos recuar. Não tenho medo de continuar, não perdi a força de lutar. Ao contrário, tudo o que vivi só reforçou um lema que pra mim é cada dia mais atual: só a luta muda a vida.
Enquanto a comissão da verdade não começar a punir esses canalhas de pijama, enquanto houver um único desaparecido não pararemos! Vamos pra cima desses caras, sem medo da verdade!
#semmedodaverdade"
Mas, eu precisava sair dalí, fazer alguma coisa com meus machucados, ir na polícia... Maria Cristina e meu pai Alvaro Frota, me ajudaram e a procurar alguém que conhecesse um advogado para me auxiliar na denúncia. Encontrei Roberta Martins e Carlos Latuff e eles me encaminharam para a delegacia onde o rapaz estava preso. Lá encontrei um grupo de manifestantes que aguardavam a soltura do rapaz e o advogado da comissão de direitos humanos da Alerj, Tomás. Depois de esperar por horas para ser atendida, o delegado se negou a me receber exigindo que eu fosse para um hospital, me cuidasse e voltasse no dia seguinte. Fui ao hospital e descobri que nada de sério havia acontecido e que os ferimentos da bomba além de doer muito iriam me acompanhar ainda por alguns meses.
No dia seguinte, voltei a delegacia, dessa vez acompanhada de Marcelo Santini e Tomás. Prestei meu depoimento e fui encaminhada ao IML. Fiz exame de corpo delito. Dentro da possibilidade entrarei com uma representação contra o comando da operação do ato e contra o Estado do Rio de Janeiro.
Estou ainda com muita dor e tenho evitado ficar on porque sentar está muito difícil para mim. Mesmo assim, quero fazer esse relato porque muitos de vocês ficaram preocupados, desejaram melhoras e eu quero mostrar o quanto estou agradecida! Mas, gostaria de agradecer principalmente à Maria Cristina, Frederico Guerra, Paulo Vitor, Alvaro Frota, Roberta Martins e André Fernandes por terem estado ao meu lado e me ajudado: queridos, muito obrigada e “tamujunto”. Agradecer sempre a minha mãe, Cleier que cuidou do meu filho Arthur enquanto eu estava lá.
De acordo com a lei, é permitido o uso desse tipo de arma que dispara bombas desde que seja disparada mirando o chão. O policial que me feriu mirou em mim e isso é ilegal. Essa é a matéria de que se trata a lesão corporal, essa é a tipificação do crime cometido.
Estávamos lutando contra a ditadura que existiu e que insiste em se mostrar presente em nossas vidas. Não fizemos nada de errado ao exigir punição aos sequestradores, torturadores e assassinos que cinicamente comemoravam seu governo de horror. O que aconteceu comigo e com outras pessoas, demonstra o quão poderosos esses senhores ainda são e como nossa luta ainda está muito longe de terminar.
Embora tenha nascido no ano da anistia e não tenha perdido nenhum ente querido na ditadura, no dia 29 de março eu senti em meu corpo a gravidade e a materialidade de tudo aquilo que havia estudado nos livros e ouvido nos relatos. A impunidade daqueles que mataram, torturaram, sequestraram só favorece àqueles que querem continuar sequestrando, torturando, matando.
Não podemos esquecer por nenhum instante, não podemos perdoar, não devemos recuar. Não tenho medo de continuar, não perdi a força de lutar. Ao contrário, tudo o que vivi só reforçou um lema que pra mim é cada dia mais atual: só a luta muda a vida.
Enquanto a comissão da verdade não começar a punir esses canalhas de pijama, enquanto houver um único desaparecido não pararemos! Vamos pra cima desses caras, sem medo da verdade!
#semmedodaverdade"
— com Byron Prujansky, Bruno Machado, André Fernandes, Roberta Martins, Fred Guerra, Alvaro Frota, Paulo Victor Leite Lopes e Maria Cristina Martins.
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